15 setembro 2006

Só quem tem o ideal de ser leve e integro poderá ser feliz, só.

A máxima da ética, a bandeira dos bons relacionamentos é nunca fazer com o outro aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco.
Mas se essa é uma verdade inegável, porque é tão difícil de seguir esse lema? Há tempos venho me perguntando sobre isso. Porque traímos as pessoas, porque enganamos o nosso semelhante, sobretudo aquele que dizemos amar?
Superar a vergonha de voltar atrás e de assumir um erro é um dos muros altos que temos que transpor para fazer valer à ética da frase que citei.
Mas isso tem a ver com vergonha? Tem a ver com o que a sociedade vai pensar sobre vc ou preservação de outrem? Será mesmo?
Creio que não.
Acredito que tem a ver com nossa fraqueza e as doenças da sociedade moderna que se incubam em nós no decorrer do tempo, mas a culpa não é da sociedade é nossa. Quem vive no meio de pessoas que falam palavrão têm a tendência a falar palavrão ou ainda de não achar tão "cabeludas" certas palavras. Assim somos nós também.
Não são poucas as vezes que sou movido por uma inveja que não me apercebo, uma terrível, maligna e sutil inveja. Quero ser igual, ou melhor, que os outros, sejam em suas coisas boas ou ruins travestidas de boas.
Se vivo num meio onde os palavrões compõem com naturalidade o vocabulário das pessoas, passo a ter o mesmo e podre estilo de ser. Minha mediocridade transforma o chulo, a podridão, a palavra que desconstrói em beleza e intelectualidade pelo efeito que vejo todo dia ocorrer em minha volta. O resultado disso tudo é que vou me tornando pior a cada dia e com os valores totalmente invertidos. Assim vou me transformando num monstro, numa aberração que ensina o mal como se fosse bem, ensinando a seriedade e a pseudo-ética calcada em princípios do mal. O que vai nascer de mim não será a escuridão total, mas a penumbra que se comparado às trevas será uma imensa luz, mas será ainda escuridão. Tudo porque me desviei aos poucos da luz verdadeira e me acostumei com os tempos nublados e festejo tal situação como sendo o melhor de todas as luzes. Tornei-me o auto-engano, sou a mentira e vivo de justificativas que tentam amenizar a minha dor. Ao poucos a verdadeira luz eu chamarei de moralismo barato ou radicalismo xiita, nenhuma mal será mal, será apenas aquilo que justificamos como situação desagradável circunstancial. E aos poucos a verdadeira luz vai me incomodar e serei sutilmente tragado pelo lado negro pelo conforto que ela passou a oferecer e me tornarei cada vez mais cego, mais bobo, mais infantil, mais relativista e mais muito mais do mal, achando que sou de bem.

Estou criando um novo circulo de amigos que tem me puxado para luz. Aos poucos estou me acostumando com toda intensidade livre e arrebatadora que seu calor pode trazer. Estou acreditando que posso pensar diferente e que posso ser sincero comigo mesmo e viver sem as amarras do medo e do auto-engano. Estou sendo levado a crer pelas provas vivas a minha volta que a vida não é fácil, mas que também não tem que ser cinzenta. E que posso ser ético com os outros, mas, sobretudo comigo mesmo. Que enfrentar os riscos da minha escolha é melhor do que fazer de mim um poço de hipocrisia pela piedade medíocre que justifico ter dos outros. Assim permaneço na luz ao invés de procrastinar a verdade.

"Devemos trazer a memória aquilo que nos dá esperança" diz o texto bíblico. É isso que quero fazer. Sentar à mesa ao lado de pessoas de bem, cheias de alegria e esperança que crêem na verdade e em possibilidades boas e verdadeiras, que primam à ética.

Não foi a toa que meu pai sempre dizia para ter bons amigos a nossa volta, aquilo tinha um significado, um sentido e resultava em boas coisas. Com ele foi assim, comigo poderá ser também. Assim viverei mais, me frustrarei menos e impedirei que meus valores se invertam.
Não será fácil e nem 100% eficaz, mas posso começar querendo verdadeiramente isso. Sei que com a ajuda daqueles que pensam como eu, ao poucos o muro parecerá menor e transpô-lo não será mais tão penoso, pois a busca pela luz será a motivação.

Que eu queira para os outros o que quero para mim, sem que as escamas do engano tapem meus olhos. Isso me levara para a luz, para o Pai das luzes sempre a brilhar.

Fábio Fino