27 dezembro 2007

O Evangelho da carteirada

Não entendo como acontece, mas não poucas as vezes que me pego quase em transe em conversas “supra-teológicas” com amigos durante a noite.

As vezes acontece num boteco regado a cerveja, e no fim da conversa já estamos trocando idéias até com Jesus que puxa uma cadeira e vem dar opiniões teológicas sobre si mesmo e seu Pai. Em geral, quando chegamos nesse estágio não concordamos nem mesmo com Jesus, pois Ele já bebeu vinho demais e acreditamos que está muito liberal nas suas idéias.

O mais interessante disso tudo é que na maioria das vezes os amigos-teólogos que mais converso e que me hipnotizam com essa magia, aparentemente nada entendem de teologia.

Dentre os que “nada entendem” ,mas “mandam bem pra caramba”, estão um jornalista que trabalha com informática, um empresário que virou moto-boy que virou empresário novamente, tem matemáticos....

Dos que entendem tudo de teologia e escrevem artigos com uma linguagem chatíssima mas com uma profundidade esplendida, está um maluco que é colunista da Eclésia, que quando converso com ele mais parece torcedor do Corinthians em dia de rebaixamento, só fala palavrão – já disse a ele que seus textos deveriam ter esse outro lado mais sujo para ficarem mais gostosos de ler. rs..rs -

Num fim de noite desses, se tivemos bebido mais uma cerveja teríamos resolvido o “problema do Mal”. Mas fomos surpreendidos por um tal que disse: “ – Há séculos se discute o problema do mal, e vcs acham que logo vcs em algumas horas vão conseguir resolver ? “ RS..rs..rs..rs

As vezes parece que estamos em 1964 formando o Clube do esquina, a diferença é que ninguém entende nada de música – nem de teologia - .

Esses mesmos bons amigos as vezes pregam peças na gente pois sadicamente gostam de expor questões sem respostas ou ver que saída um ou outro arruma para dilemas teologicamente escabrosos.

Quando estou com eles e aparece alguém que é notadamente conhecido por pensar totalmente diferente de nós, brotam as perguntadas dos “amigos da onça” querendo que solução até para o “umbigo de adão”. Tudo para saber como eu “saio dessa”.
É uma espécie de teste, um provão surpresa.

É sempre engraçado e o pior é que os caras pensam como eu (ou eu penso como eles, sei lá), mas fazem questão de se transformarem “literalmente” em “Advogados do Diabo”

Outro dia fui arremessado contra um calvinista (alguém ainda usa essa expressão ?).

E diziam: - Fala aê Fábio, explica sua tese pro cabra aê de que o inferno não existe.

Pareciam aqueles adolescentes birrentos dizendo: - ôrra. Ôrra, falou que sua mãe não é homem... se for homem cospe aqui.... RS..rs..rs..rs

O tal Calvinista era outro amigo que totalmente diferente de mim era formado em teologia.
O problema é que sou adepto das não-respostas, tudo porque acredito que é coerente e normal ter mais dúvidas que respostas.

Só sei que aquela discussão foi crescendo, aquecendo, fervilhando entre eu e o Calvo e meus amigões lá latindo: “- NOOOOOOOSSA, sai dessa.. Ôrra....ôrra..vixêêêê......” Mesmo discordando não abriam a boca e só atiçavam.

Dado momento o Calvo na última investida contra minhas anti-questões, estufou o peito, levantou a mão com autoridade de um árbitro de futebol ao terminar uma partida, apontou para o centro e disse: - Por acaso vc estudou teologia ? Vai estudar.... vai conhecer a história.......

Aquela foi “A CARTEIRADA da fé” que foi arremessada bem no meio da minha testa. Senti os poderes divinos que emanavam daquele gesto e vi anjos e arcanjos tocando guitarras enfurecidas apoiando aquela decisão.

Pedi pra que Eliseu me abrisse o olhos a procura do exercito que deveria estar a minha volta e NADA, olhei pro lado pra ver se Jesus estava lá, mas acho que ele estava na lanchonete Dan-dog em outra discussão mais leve e engraçada tomando uma cervejinha.

Tudo por causa do maldito inferno.

Das próximas vezes espero não ter evocar a memória da família Grace e ter que explicar que no VALE-TUDO, Vale tudo menos mordida e dedo no olho pq isso é apelação de gente que não sabe o porque veio.

Porque carteirada da fé usar do poder sem, no entanto ter autoridade.


Fino.